domingo, 16 de maio de 2010

Não tenho sido

Não tenho sido compreendida, Elvira, minha amiga. Há um rancor nefrálgico em Alberto: ele mija de raiva de mim, porque deixei água parada no vasinho de hortênsias, e ele jura que minhas modestinhas flores lilases lhe causaram dengue. Aquele famigerado mosquito funcionou como uma loja de conveniências ao Alberto, um vampiro aberto 24 horas, pronto a picar o cara que queria um motivo para se livrar de mim. Foi isso, Elvira, mesmo sóbrio ele é um homem duplo: um Concha y Toro, de nascença.
Alberto chegou tossindo, febril e gritando, como se afinasse uma tuba que guardava no peito, e destrambelhou lembranças do dia que passou no Carrefour só para me comprar as flores, claro, no Carrefour, liquidação Elvira, mas sobre isso eu não disse nada. Depois transformou todas as suas ótimas ações e os magníficos presentes numa única e ampla sombra para a nossa incompatibilidade de gênios. Ectoplasmas da recordação. Fantasmas que passaram a nos freqüentar. Então, Elvira, bateu a porta e se foi de vez. Quer saber, quero que a dengue dele vire hemorrágica... mas nem sei se o canalha tem sangue nas veias pra isso.

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