domingo, 9 de maio de 2010

Calado e cruel

Calado e cruel, Moacir era uma máquina de desgraças. No verão, costumava ser nazista. Comunista no outono e integralista no inverno, por primaveras seguidas sempre foi um egoísta. Abruptamente transformado em interventor daquela cidadezinha pacata e sertaneja, sabe Deus por quem (assim que o prefeito desapareceu, como se abduzido), logo baixou bucólicas determinações, tal a que obrigava todo cidadão maior de quinze a subir nas árvores ao entardecer. A ordem de Moacir era a da existência de “pés de gente”. Nos períodos de chuvas e temporais, determinava que também os menores de quinze deveriam subir galhos acima, na esperança de criar mártires: pessoas atingidas por um raio, no estrito cumprimento da lei. Tanto insistiu que, num entardecer de dezembro, cinco munícipes foram torrados por uma descarga elétrica vinda do céu. Com um sorriso vitorioso face afora, Moacir chamou o trêmulo e hesitante escultor: “eternize a cena!”, decretou. Para concluir, quase num sussurro: - A história é feita de grandes gestos.

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