segunda-feira, 1 de março de 2010

Seu assunto

Seu assunto predileto eram os próprios sonhos. Sobre alguns, pulava burlesco algumas etapas, especialmente aquelas nas quais se dava bem. Mal de si era o tema mais propício, capaz de arrancar hilários risos dos ouvintes, por serem totalmente desprovidos de elementos éticos e morais. Contou do buraco com o qual matou o cego, do alto balcão de doces anti-anões, da música que declamava aos surdos e do espelho trincado, que lançava aos olhares das mulheres feias.
Anti-herói de si próprio, jamais salvou criancinhas, ajudou velhinhas nas ruas ou deu esmola a aleijado. Até que encontrou Arquimedes, o ilusionista, que se dizia capaz de materializar os sonhos alheios. Sem receio ou fingimento, pôs-se a contar-lhe o sonho com Eva e Linda, a gêmeas xipófagas por quem se fizera apaixonar, a fim de promover-lhes a discórdia. Arquimedes envolveu-se na trama, e logo desmascarou o contador: “elas fingiram que te amavam”, sentenciou seco. Rubro e sem jeito, o rapaz calou-se, definitivamente. Nenhuma palavra, nenhum sonho. A desilusão no amor fora o pesadelo definitivo.

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