segunda-feira, 29 de março de 2010

Dois tapinhas

Dois tapinhas nas costas alheias era a marca d’água de Reinaldo, através da qual dava baixa nas suspeições de que era um afetado, pelas roupas de grife que usava. Apresentava-se como um “descaralhado humorista”, capaz de por a rir um padre nos ofícios de um velório ou a funcionária pública do guichê de reclamações. Tinha, porém, seus inimigos escolhidos a dedo. Com excelsa frieza, mantinha Laerte, o dono do bar, na mira intranscendente de um falso abraço, cuja proximidade física era utilizada para um proposital bafo de três dentes de alho que Reinaldo mascava a seco, sempre que ia ter com essa vítima de seus recônditos ódios. Feita a desfeita, ainda cuspia no chão do bar, logo em seguida ao bafo. Até a noite na qual sua proximidade pôs Laerte de prontidão. Pastelão, esquivou-se do abraço e arrotou cebolas respingadas sobre as grifes de Reinaldo. Um susto que construiu uma amizade eterna.

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