segunda-feira, 8 de março de 2010

Um sulco

Um sulco na poeira grudada à testa indicava viagem longa. Comprara a bike e adicionara o descompromisso, quando se encheu das contas alheias no pacato escritório de contabilidade. Não era rico. Remediado, começou com a visão que teve do cachorro dormindo. Auto-suficiente, descansado. Até lágrimas nos olhos ele tinha, como se tivesse rido de um sonho desses inúmeros que cachorro tem. Aurélio, então, fez idéia da vida mortiça que levava. Fez direito. Entregou as contas aos donos, vendeu a portinha no centro e deu para pedalar. Metódico e aos prazos, pré-estabelecidos. Marcava datas e metas para chegar e sair de cada cidade. Calibrava os pneus sempre com aquela quantidade de ar. Deixava que lhe passassem os carros predadores, os outdoors persuasivos, as vontades do consumo fácil. Mas como deixar de vez os hábitos de velho contador?

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