sexta-feira, 12 de março de 2010

Deu ao filho

Deu ao filho o nome de Presócrates, dada à boniteza com que via a filosofia. Aqueles pensadores, seus tratados, textos e frases serviam para todos os gostos, dizia Paulino, sem temer jamais uma indigestão. Funcional no seu analfabetismo, exalava fulgores de um padre rebelde ao discutir a retórica aristotélica, a razão prática kantiana ou os aforismos de Nietzsche, que recitava a quem os quisesse ouvir. Em algum lugar do mundo deveria estar o original, da paródia que Paulino representava.
“Quanto mais me elevo, menor eu pareço aos olhos de quem não sabe voar”, confessava de si para si próprio. Até que deu de cara com a fisicamente enorme Claudilene Curry, a austera e redonda professora de filosofia da renomada universidade pública. Ao ouvir as asnices de Paulino, aquela quantidade enorme de humanidade desferiu-lhe uma citação shopenhauerana: “quanto menos inteligente o homem é, menos misteriosa lhe parece a existência”. Aquilo deixou Paulino indignado. Com a mesma cara que teve ter ficado o Cristo, quando Judas tocou-lhe com os lábios.

Um comentário:

  1. Caro amigo Alaor,
    A Claudilene Curry é uma pedra no sapato do nosso Paulino. Você como sempre arrasando nestas páginas virtuais.
    Abraço e bom final de semana.

    ResponderExcluir