quarta-feira, 31 de março de 2010

Das formas

Das formas de suicídios que avaliou com atenção, nem cogitou inventar muito ou partir para as novas tecnologias, optou pelo tradicional estouro dos miolos. Lançar-se ao vazio, ingerir veneno, jogar-se debaixo de um caminhão ou ônibus lotado, posicionar-se a esmo no pasto descampado para o relâmpago fulminante, fechar a porta e abrir o gás, foram possibilidades excluídas. Temia pela espera, que bem poderia ativar-lhe a razão para convencer-lhe da desistência. Haveria de ser e parecer lunático, como forma de preservação da moral dos suicidas. Pensava regozijado nessa faísca de mistério. Intuía a culpa que deixaria aos próximos e o acender de sua existência, tão apagada às vistas alheias. Convencia-se, enfim, que o gesto era coisa dos vitoriosos, quando decidiu consultar um terapeuta, a que sempre se recusara. Tomou um anti-depressivo e concluiu nessa vida: “melhor morrer de tédio”.

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