quinta-feira, 11 de março de 2010

Nunca lhe indagaram

Nunca lhe indagaram por que optara pela corrupção. Talvez ele próprio não soubesse responder. Foi como hábito inocente, do tipo comer pastéis na feira-livre aos domingos pela manhã. Depois, aquilo se incorporou a ele, como um vício. Virou um dependente. As poucas recaídas morais, cada dia menos freqüentes, nem de longe superavam o prazer. “Satisfação sempre dá”, comentava aos cúmplices.
Impunidade é uma certeza. “Não se pode vacilar”, ensina aos mais novos, professoral. Já formou vários, orgulha-se. “Alguns renegam, mas a maioria ainda passa por aqui, na delegacia, e deixa sempre uma lembrança pra gente”.
Bom pai de família e religioso exemplar, teme pela aposentadoria que se avizinha. Marcaram festa e tudo para o mês que vem. Como sofre de ansiedade, comum na profissão, já avisou que fará o pé de meia nos próximos dias. “Tem muito milionário safado que, agora, vai contribuir”, adverte ameaçador... e precavido.

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