domingo, 21 de março de 2010

A já comprida

A já comprida bondade de Bete crescia a olhos vistos, como as folhas das samambaias que ela cuidava tão bem. Fiel amiga, ótima amante e excelente esposa, Bete era aquilo com o que um homem sonha, mesmo que para isso deva perdoar o amor daquela pérola pelos cachorrinhos da raça fox paulistinha. Esse homem era eu próprio. A casa limpa, com as pias brilhando, os banheiros cheirosos, os espaços harmoniosos e a comida sempre quentinha, na hora e com os menus exatos, eram meus. Vivíamos como Eva e Adão antes da maçã. Julieta e Romeu depois de mortos. Perfeitos, não fosse o cérebro de Bete, do tamanho de uma ervilha. Ela se descuido da pinta negra na coxa, e aquilo foi crescendo, de jabuticaba a ameixa, até quase o tamanho da cabeça Bete. Mas Bete era incomparável. Só nos separamos, mesmo, quando começou a nascer cabelos naquela negritude redonda. Senti um coisa estranha, fazer o quê?

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