sábado, 20 de março de 2010

Saiba morrer

Saiba morrer o que viver não soube, bocageou o tagarela Antunes, no momento em que baixavam o caixão de Gotardo à sepultura. A viúva de saudosa gotejou tensões, e arriscaria a fala no mais baixo calão contra Antunes, não fossem as circunstâncias cerimoniosas. Engoliu o gosto infeliz do silêncio, mas prometeu a sim mesma retrucar o impertinente.

Pouco tem se passou até a condição ao seu intento. O descuidado amigo do marido morto pairava soberbo sobre as falas, na roda de amigas fúteis, quando a viúva se aproximou serena. Retirou o homem num canto, e disse-lhe ao ouvido o que ninguém mais escutou. Antunes retomou tirante a violáceo. Por certo as moças não entenderam sua lividez. Que foi? Fala, homem? O que a viúva te disse? Amordaçado pelo escrúpulo, Antunes apenas esquivou-se ao verbo: “nada, nada, foram umas coisas que o desgraçado do Gotardo disse a ela sobre mim”. As moças trocaram risadinhas, frias e maliciosas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário