segunda-feira, 15 de março de 2010

Feito massa

Feito massa sovada com fermento, maré ou leite fervendo, Odécinho crescia a olhos vistos: vertical e horizontalmente. Sempre pronto a decepcionar as expectativas de quem quer que fosse, tinha o acaso como marca de nascença. Era a própria indiferença moldada no descuido. Meio passado, diria depois Orlandinha, por quem ele se apaixonara comoventemente: talvez a única comoção, diga-se, da vida negligente do rapaz.
Pena que a doce moça teve que dizer isso à polícia, num interrogatório que durou horas. Ninguém conseguia entender como Odécinho pode morrer naquele encontro com o poste, quando, distraído, olhava para Orlandinha, do outro lado da rua. A cegueira do amor não o atentou ao obstáculo do primeiro plano. E a primeira vista foi a última que viu, antes de quebrar o pescoço.

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