quinta-feira, 4 de março de 2010

Queria visitar

Queria visitar Camilo, mas Camilo não queria visita. Inconveniente em tempo e espaço, Rivaldo era do tipo que sentava, bebia, comia e não ia embora. Tomava o que havia e dava conta do sofá da sala. Por vezes, o inconveniente visitante levava Alzira, amiga de álcool e grude, e se punham a escolher o assunto da roda, a música de fundo ou programa da televisão. Ao dono da casa cabia a passividade diante daquilo, que ao invés de visita apresentava-se como um enorme complô.
Quem sacia a sede, se coça e ainda faz troça na seara alheia, hora ou outra descobre que a recepção virou desforra. Camilo não queria visita. Traçou vingança. Quando Rivaldo chegou, continuou a dedilhar o teclado do piano, como se nada... O litro de uísque estava ali, aparente e insinuantemente despojado no balcão do bar da copa. Rivaldo logo se serviu, e abasteceu Alzira, sem escusas ou licenças. Com os gelos tilitando nos copos, ofereceu ao anfitrião. Camilo sorriu enigmático: “não, não bebo isso!”.

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