sexta-feira, 26 de março de 2010

Quando disseram

Quando disseram a Cláudio que suas histórias, assim, contadas, tinham dimensão plástica, o pobre ficou meio agastado. Sabia que o plástico demorava para se reciclar na natureza, ele lia, ouvia, ecologia, então começou poupar palavras. Chegava mesmo a cortar os sentidos, como na estranha explicação que (bem que) tentou dar à existência de cachorros de rua. E foram muitas as esquisitices: mágica do vôo do inseto, floresta encantada da música, cinco fatores da língua, erros dos restos, protestos das nuvens. Enfim, afirmações sem nenhum pé e carentes de cabeça capaz de conduzi-las até uma sensatez final. Foi na desordem do medo, no entanto, que Cláudio decidiu emudecer de vez. Sua dimensão plástica, disseram os críticos, resumia-se aos gestos. Nos ouvidos confusos do moço isso soou como um acinte ambiental. Coitado, até pensou em suicidar-se, em nome da preservação.

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