terça-feira, 30 de março de 2010

Vetusta e besta

Vetusta e besta, Veruska achou um jeito, honesto a seu ver turvo, para controlar-se da secura dos anos: se casaria com Dráuzio, o mudo afeminado da farmácia. Só no civil, pensou em princípio, mas seriam justamente os princípios que a impediriam de uma cerimônia assim. Então marcou um padre, doou-se um vestido branco e divulgou às divas velhas, amigas de dermes, fofocas e infortúnios. Suas contrações e espasmos, moídos pelos milênios de espera, haveriam enfim de receber o sopro da vida.
Na hora marcada, um marco: Dráuzio surgiu de terno cinza, gravata em linha e perfume bom por toda a parte. Pedaço de mau caminho, pensaram todas aquelas da platéia histérica. Tendência ao horizontal, imaginou Veruska, já mais afoita. Esqueceram todas do lapso iminente. O padre bem que tentou, mas Dráuzio jamais conseguiu pronunciar o “sim”.

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