domingo, 28 de março de 2010

Aposto que coisa

Aposto que coisa do Abreu não foi. O pobre tem medo até de minhoca, imagine se mexeria com cobra? Silvestre, sim, é traiçoeiro. Trabalhou com bichos no zoológico de Vila Velha. Depois tem mais: sempre teve pretensão ao cargo. Fica enfiado lá na casa de fundos onde mora, emitindo aqueles sons parasitas de fritura, fervura, móveis arrastados, tosses limpa-almas, martelo nos pregos. Daí a criar cobra é um pulo. Quem já entrou lá pra ver? Parece que vive numa teia de sonhos e desconfianças.
Quando sai pela manhã vi Amadeu na porta da loja, caído, respirando sem fartura. Chamei o resgate, que chegou logo. O moço da viatura já viu os dois furos no braço de Amadeu e alguma coisa pra fora em sua face. “Vampiro ou cobra. Olha a língua, como espicha”, disse. A peçonha tiritava no pouco espaço quadrado. Cascavel. Fora deixada numa caixinha para presente, no caixa... Cobra no caixa. Bem feitinha que só vendo.

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