Há no contraste um traço mórbido, alguma coisa liga uma oposição à outra. Divino Ernesto era dado à filosofia, ainda que falasse aos postes e desconfiasse do fato de, de fato, estar mesmo aqui, nesse mundo. Sua irregularidade nos passos, seus sorrisos manquitolas, espirros intermitentes e fungares extemporâneos não deixavam dúvidas: era um diferente. Comprava no sebo o Nietzsche que via. Como enxergasse mal, pinçava os aforismos a ler tratados, e os adaptava às chulas. Tal torto em seu direito, delicadamente mau-educado, replicava o pensador alemão, sempre que aos sarros lhe tiravam a concentração: “aquilo que não me destrói fortalece-me”.
Encasquetou com Clara Áurea, catequista quarentona cujo sonho era se casar. Cristianismo e Nietzsche é mortadela com açúcar, mas ela se benzeu e cedeu. A fé é querer ignorar tudo aquilo que é verdade, disse-lhe ele, amando e nietzschando. Ela só sorriu: “mentira, seu bobo!”.
quarta-feira, 1 de julho de 2009
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O contraste dos iguais! Como sempre, crônica de prima! Beijo.
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