quarta-feira, 15 de julho de 2009

Falava de coisas

Falava de coisas exatas de um jeito impreciso, como se aplicasse ungüento na alma. “Janaína foi mais ou menos minha esposa”, disse, com mais desdém do que realmente sentia.
Contou que a rainha do mar lhe fizera a corte amorosa na volta de um passeio de escuna, pelo litoral catarinense. Já mergulho, sob águas claras da Reserva de Arvoredo, sentiu o galanteio da deusa. Passava a calda na máscara de vidro e, de mais longe, olhava apaixonada, diferente do olhar de peixe. Quando subiu no barco, a divindade se personificou, fez sinal para que retornasse ao leito, o abraçou, e então se casaram.
A representação desajeitada de seus desejos não convencia aos homens daquele bar. Casar com o mito era por demais inverossímil para os corações sem paixão. Daí o desprezo do homem por aqueles semelhantes bêbados.



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