sexta-feira, 3 de julho de 2009

Não fiquei olhando

Não fiquei olhando tanto assim o bebê. Sou bom em disfarçar os meus sentimentos verdadeiros, mas a mãe, na cabeceira do berço, me olhava atenta, como se esperasse uma reação falha de meu dom teatral. Fiz um bilú mecânico e disse o nome, abreviado e diminutivo, no tom idiótico com que se fala com bebês: “Guzinhôôô!”. Gustavinho. Gustavo. Nem aí, o bebê albino. Albino? Branco até onde não deveria. Isso é que clareava o olhar da mãe.
Rosa, nos olhinhos, onde, lá, sim, deveriam ser brancos. Da careca translúcida às alvas pontas dos dedinhos, o bichinho imaculado parecia esperar pela cobra peçonhenta à qual seria servido, ratinho de laboratório.
Vizinhos de antes, mudaram-se depois. Vivem num ermo, longe das gentes e dos seus olhos. À sombra de alguma paz. Gustavo não pode tomar sol.

Um comentário:

  1. Esta chega perto da crueldade.... o ratinho de laboratório... judiação!

    Beijos

    Dan Dan

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