segunda-feira, 20 de julho de 2009

No caminho para casa

No caminho para casa ela regorjeava canções pueris. “Que cor eles têm? Azul, amarelo, vermelho também”. Eram cantos urgentes, que precisavam sair da alma, antes que descobrissem tudo. “Do berro, do berro que o gato deu”. No sinal fechado deu para pousar a vista no néon verde. Boates que piscam, gente que dança. E aquela chuva fina que oscilava pontos no pára-brisa entristecido. “Vamos dar a meia-volta volta e meia vamos dar”.
Outra primeira engatada, com vontade de dar ré. Retroagir, regressar, retornar. “Não venha mais cá, que a mãe da criança te manda matá”. A chance foi utilizada às avessas. Se não atirasse, a ofensa não cessaria. Agora haveria de passar para a segunda, terceira, marchas ativas, capazes de ultrapassar o seu gesto criminoso. “Dentro dele, dentro dele mora um anjo, que roubou, que roubou meu coração”. Estacionou num beco, para ver se o timer do limpador descortinava as gravidades. Sim, limpou. Não, já molhou. Sim, clareou. Não, já turvou. Chuva insana. Vai ver empossa solidões. “Foi por causa do ......... que não soube remar”.

2 comentários:

  1. Valeu, Alaor.

    A poesia que brota das imagens é sensacional e vai iluminando o trajeto para a mente indecisa da personagem.

    Gostei muito. Mesmo!

    Abraços.

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  2. Alaor,

    As cantigas me devolvem à infância no interior da Bahia. E nasce a vontade de entrar na roda: "Eu morava na areia, sereia...", "Gata pintada, quem te pintou..." Deixando as lembranças, só tenho elogios. "No caminho para casa", como acontece em suas crônicas, possibilita ver as cenas, sentir e se emocionar. É o cinema em palavras.

    Parabéns,
    Graça

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