segunda-feira, 6 de julho de 2009

Criatura aquinhoada

Criatura aquinhoada, o Nelson. Quando as luzes da colônia começaram a se acender aqui e ali nas casinhas de massa-barro, desafiando o enfumaçado das queimadas da cana, que subiam em lenta densidade rumo ao céu, ele acendeu o charuto. Um Cohiba, cubano, puro como os sonhos de Tavinha, a mocinha do Seo Zé da Turca, a quem prometeu uma bolsa nova, de marca, em troca de umas perversões já devidamente praticadas, na manhã daquele dia.
Ouviu o trinco do portão abrir, mais nada. Nenhum passo ou “ô de casa!”. Revólver existe pra isso, pensou, sacou, foi ver, campeou, desconfiou em dobro. Nada. Baforava atento quando apareceu Tarzan, o boxer amarelo, amarronzado pela terra e liberdade, todo babão, abanando o cotó do rabo. Até o cachorro aqui é inteligente, contaria logo depois ao compadre Oto, fazendeiro vizinho, que parou para uma pinga, e aproveitou para devolver-lhe o empréstimo.
Na manhã seguinte não se levantou. Ataque fulminante, explicou o doutor. Dormia. Nem sentiu. Nelsão, Compadre Nerso, Nelson Usineiro. Criatura aquinhoada, ele.

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