quarta-feira, 8 de julho de 2009

Assessor parlamentar

Assessor parlamentar era o cargo para o qual havia sido nomeado. Não sabia direito se aquilo o nivelava por cima ou por baixo. O velho senador, cunhado novo, era bom para sua irmã mais nova e presenteava a mãe, ainda que vivesse às turras com a imprensa, por conta de suas obscuridades morais.
Alheio ao fato de que a moral é a transformação de estados momentâneos em estado permanente, a proximidade fez o cunhado achar estranho o tique que o político tinha: meter o dedo em qualquer buraco que visse. Um furinho na camisa alheia, uma concavidade mínima na parede, depressão ínfima no tampo da mesa, miolo de fechadura, boca de torneira, enfim, onde houvesse pequena abertura artificial, de ordinária forma arredondada, lá estaria o indicador do deputado. Chegava ao cúmulo de, disfarçadamente, nos comícios, descer do palanque para endedar um furinho numa bandeira, que balançasse lá embaixo, nas mãos de algum correligionário.
Meses depois, um conluio. Foi segredar com a irmã sobre o anormal hábito do marido. Só então observou no fraterno ombro esquerdo um buraquinho de vacina. E ouviu, atônito, a revelação da mana: “foi amor à primeira vista!”.

2 comentários:

  1. Belo texto alaor.

    Se fetiche ou toc , seja o que for, a anormalidade do personagem reflete, em certa medida, a idiossincrasia de uma realidade muito conhecida por todos nós.

    Abraço.

    ResponderExcluir
  2. Alaor,

    cometi dois equívocos: o comentário no nome de Filipe é meu (usei outro navegador que estava logado por meu filho)e digitei alaor quando deveria ter digitado Alaor. Todavia, o conteúdo é 100% verdadeiro.

    Abraços.

    ResponderExcluir