quarta-feira, 22 de julho de 2009

Ligou do nada

Ligou do nada. Sublinhava as falas, como se algumas palavras estivessem entre aspas, em sentido tenso. O “faz tempo” que a gente não se fala, ecoou com horror fingido, feito a morte de uma relação enfeitada com trapos coloridos. Fazer o quê, fofa? Falei, depois de alguns monossílabos.
A comoção era de um exagero doce, que lhe caía do coração. Minha boa vontade quase adormeceu junto com a mão imóvel, de tanto segurar o telefone, ponto. Sumimos mesmo, exclamação.
Proust provavelmente saberia o nome de cada uma das nuances de meu desprezo. Agüentei firme. Apoiei o notebook num cantinho da mesa, e dei uns googles-imagens em palavras que cismei na hora: enganação, falsidade, capciosidade, ardileza e essas coisas, que dificilmente se traduzem em fotos ou desenhos figurativos. Deu pra ver coisas estranhas! Tão incomuns como aquela discurseria que meus ouvidos escutavam distraídos.

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