Um exemplar do Dicionário Aurélio. Três discos, formato long-play, de Heitor Villa-Lobos. Um tapete Arte de Origem, trama única, em ocre. Um computador Pentium 3, Intel, preto empoeirado, ligado. Uma geladeira Brastemp branca, bastante riscada e sem a testeira de solo. Um fogão Jacaré, boca única. Alguns coadores de papel Melita, meio saco de pó da mesma marca. Um quinto de litro de cachaça Ouro, de Salinas-MG. Oito cascos vazios de cerveja, rótulos da marca Skol.
No boletim de ocorrência as coisas são chamadas pelo seu nome, e recuperam a personalidade exaurida pelo uso. Como se nenhum deus entrasse naqueles cômodos (três, totalizando 42 metros quadrados) há tempo. Só não constava o nome da vítima. Homem. Aparentando 35 anos, pele branca, vestindo calça jeans desbotada e camisa vermelha, puída nas axilas. Sem documentos.
Na tela de proteção, uma espécie de testamento virtual era o único sinal de luz, ali, naquele espaço desprezível: “agora isso tudo é seu, Elisa, canalha”.
No boletim de ocorrência as coisas são chamadas pelo seu nome, e recuperam a personalidade exaurida pelo uso. Como se nenhum deus entrasse naqueles cômodos (três, totalizando 42 metros quadrados) há tempo. Só não constava o nome da vítima. Homem. Aparentando 35 anos, pele branca, vestindo calça jeans desbotada e camisa vermelha, puída nas axilas. Sem documentos.
Na tela de proteção, uma espécie de testamento virtual era o único sinal de luz, ali, naquele espaço desprezível: “agora isso tudo é seu, Elisa, canalha”.
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