domingo, 12 de julho de 2009

Entraves escaldantes

Entraves escaldantes impediam o acesso ao fundo do incêndio. Como alcançar Branca, ante aquelas chamas laranjas? Sem hora ou aviso, as senhoras labaredas subiam aos metros, como em esforço proposital para derreter o mundo. Densas. Danças de morte às coisas, que levariam consigo um início de paixão, caso ele não chegasse ao fundo onde, íntima, Branca ofegava acuada. Seria queimada, pressentia. Tragada, intuía.
Se crepitação de alma ou sirene de bombeiros ele não sabia. Impossível identificar sons que se sobrepõem à lucidez. Depois, havia aquela fartura de vaga-lumes abrasadores, com feição de centelhas, a turvar-lhe as vistas. Piscares descontrolados, contrações involuntárias dos muitos músculos, corrida em falsete e passos mancos, já sem o rumo certo da posição de Branca. Por ali, não. Há um armário de memórias que se extingue no caminho. Por lá, também não. A estante de armazenar fórmulas, repletas de vidros disso e daquilo, impede a passagem, com explosões sucessivas. O fogo destrói sem piedade, e já não há mais como salvar Branca.

Um comentário:

  1. "Impossível identificar sons que se sobrepõem à lucidez." Grande, Alaor, de prima. Bj. Sidnei

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