sábado, 23 de maio de 2009

No volante

No volante, a cento e tantos, viu no retrovisor a redenção do mundo pela violência. Ficou para trás, cada vez menor, aquele pedestre. Já era, aquela coisa. Calça jeans, camiseta chino-americana da promoção e um tênis, “do nike”, falso. Natureza-morta da honradez urbana. Gentes e coisa que têm que ser ultrapassadas, e viva a vida veloz, que nem tem tempo para deixar marcas.
O carro da frente, murrinha, lento, empatador, deve ser transposto. A urgência é mole e a selva é rígida. Com a visão libertadora de uma embriaguez, Horácio ainda quis dar asas a velha transeunte, e a colocou no ar, no céu, para sempre.

Um comentário:

  1. Grande!

    Muito poético apesar do realismo arrasador. Um retrato do tempo.

    Abraços.

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