sábado, 2 de maio de 2009

Como estátua

Como estátua no parque, em noite escura, fiquei parado. Matando-me de inanição. Janeleiras dos prédios olharam descuidadas. Olharam curiosas. Olharam atentas. Não ouviram, de longe, o primeiro rugir do estômago. A nostalgia da pizza. Ausência do bife. Pesar pelo feijão. Saudade dos cremes.
Senti um vinco azedo na testa, como nas más digestões. Vieram para demover-me, os beija-mãos, falastrões e entediados diplomatas de rua. Cigarro à boca, o bêbado me imitou capenga. Amor à solta, tal o riso, a puta zombou. O engraxate só pensou no êxito do negócio iminente. E surgiu Maria de algum bastidor do céu. Declamou uma ode à feijoada, repleta de citações da pele, da carne, já seca. Foi embora, mas voltou depois, com caçarolas e caldeirão fumegante. Aquele cheiro de velhas reuniões com amigos.
Nos casamos, mas dizem que ela é louca.

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