segunda-feira, 18 de maio de 2009

Aroma da alvorada

Aroma da alvorada tem que ser verde. Não há matiz capaz de lhe envaidecer melhor. Só Poliane se cisma vermelha. Unhas das mãos, dos pés e depois o batom à beira do escarlate. Rubras roupas, idênticas peças íntimas. Chapeuzinho a desafiar lobos.
No ponto, às 6 em ponto, soletra sigilosa uma oração ao dia, indiferente aos espantos que sua cor logo causa aos seus idênticos, cumpridores da ordem e do horário, madrugadores do ofício. Cruza as ruas como uma labareda corada, que passa pelas cores neutras e os tons pastéis da multidão cotidiana. Abre a loja de cosméticos, e corre à cozinha, preparar o café da patroa que chega às 9, com eventuais atrasos. Lança olhares aos mocinhos da oficina em frente, dá bom dia aos que param para ver a vitrine. Sente-se solta e outra, agora que se separou de Guilherme. As manchas roxas nos braços e olhos a incomodam um pouco, mas as explica indiferente aos curiosos: - Estou encarando um ton sur ton.

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