terça-feira, 19 de maio de 2009

Passava Tom Zé

Passava Tom Zé no programa Raul Gil. Tão insólito quanto Cláudio, sentado à frente da televisão, ouvindo rap no iPod roubado há pouco no parque, extraindo os frutículos gordos de uma jaca gosmenta e chupando-os com doce aflição. Sabe-se lá o que via, ouvia ou comia, depois de fumar as duas últimas pedras de crack, extraídas do invólucro de papel alumínio.
A criança, presumivelmente seu filho, chorava fome sobre o sofá furado. De micro-short e seios sutilmente à mostra, a mulher dormia jogada. Sem ação ou importância.
Odete entrou na ampla sala, mansamente, e se dirigiu imperativa a Ricardo, o filho mais velho: “desliga isso, menino, que mania de ver filme de favela!”.
O cronista pôs ponto final, por considerar a história verossímil, para os propósitos cretinos. Roberto Olympio, o editor, lançou o esboço do livro sobre a mesa. Cretino mesmo, disse com desdém.

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