sexta-feira, 1 de maio de 2009

Afeiçoava a casa

Afeiçoava a casa com suor e sentimento. Caiação branca, roseiras amarelas. Uma paciência capaz de levar aos sonhos incuráveis doentes de insônia. Diziam que era estranho. Pouco afeito às tagarelices dos bares e muros. Habituado ao sim. Cordato como um penitente, prudente, tal velhinho ao volante.
Num domingo, pela manhã, a vida fugidia revelou-se surpreendente. Com Sara, a vizinha, sob a mira de dois revólveres, assaltantes lhe adentraram a casa, derrubando mesas e harmonias. No chão, passivo, ouviu sirenes e gritos. Não se mexa. Não se mexeu. Com a delicadeza dos sábios, levantou os olhos acanhados rumo ao assaltador mais nervoso, e suplicou baixinho: “enquanto o senhor mata a Sara, não se importa de eu ligar a televisão? É que há quase trinta anos não perco o Globo Rural”.

Um comentário:

  1. Amigo Alaor,

    Seria um prazer para mim e para Regina (minha esposa) recebê-lo aqui. Salinas é uma cidade do Recôncavo Baiano que emana alegria e simplicidade no modo de vida e exuberância nas formas e cores de uma cidadezinha costeira.
    Estou utilizando alguns textos seus como leitura compartilhada com os meus alunos adolescentes e a discussão vai longe.

    Um abraço.

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