segunda-feira, 20 de setembro de 2010

No meio da casa

No meio da casa dos quarenta, beirando mais, inspirava a desconfiança pelo brinco em zê provocante dependurado na orelha esquerda. “Mais pra Tonto que pra Zorro”, cochichou o atrevido Ernesto, quando aquele homem entrou no bar e pediu licença para tocar o violão puído que trazia a tiracolo. Mas que maravilha contraditória era aquela? Queixo voluntarioso, meio indecente nos gestos (a música de murmúrio e notas que saía daquela voz e cordas), emanava uma atração inexplicável. Queriam-lhe saber o passado, presentemente encantados. Bisbilhotavam sem perder o ritmo, que não os liberava para comentários curtos. Com beiços caídos e troças engolidas, Ernesto emudeceu fofocas, só olhando fixo, sem sustento de provocações. Bateu o isqueiro, acendeu um cigarro e, de repente, estava assobiando a melodia do homem... e jamais a ouvira antes. Deu de súbito com a clareza, fez pelo sinal e baixou a vista. “Esse zê só pode ser de belzebu”. E a música nunca mais parou de tocar em sua vida.

Um comentário: