sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Desajeitado com aquela

Desajeitado com aquela altura era quase uma redundância. Aos nove anos, Hipólito media um metro e setenta. Não era um menino, era uma bananeira, que balançava ao mínimo vento (ou sem ele), como se fosse cair de lado, de frente, pra trás. Ria por tudo, não só com a boca, mas com os olhos e a garganta, com os braços e pés, que mexiam em breves sapateadas de contentamento. O povo do lugar não demorou ignorá-lo pela estupidez nas alturas, somada ao mais absoluto silêncio. Hipólito nunca falava. Olhava e ria, passava e oscilava no ar. Era levado pelos meninos de sua idade para apanhar jabuticabas e mangas dos galhos mais altos, missão que cumpria com o gosto da utilidade aplicada, sem o gesto se transformasse em recíproca amizade. Nascido num dia chuvoso de maio, morreu num temporal. Caminhava pelos pastos, como de hábito, quase sempre sozinho. Dizem que veio um raio lhe buscar.

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