quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Não liga

Não liga, não larga. Ednéia aconselhou Teresa, quando a amiga soube que o marido andava com ocupações escusas no meio do expediente. A desmedida língua alheia, porém, apontava fuzis e canhões na direção do óbvio: Olegário, farmacêutico exemplar, estaria traindo a mulher com uma manicure decrépita e de modos fáceis. Teresa tentou testes, escuta, labuta, mas nada de conta de aferir a tal... A coisa era conservada à discrição monástica. Lá ia ele, toda a manhã, abrir a farmácia. No almoço, era batata. Saía do serviço à casa, da casa ao serviço. E nem plantões aos sábados ele fazia mais: que ficasse Batista, seu funcionário, cujo único mal era se imaginar médico. No salão de beleza da amiga, Teresa revelava o inconformismo latente: “Não é possível, Ednéia! Ele é todo trabalho!”. Naquele tarde, Ednéia foi à farmácia, como havia prometido à amiga. Às três em ponto, quando Batista saía para o lanche, ela entrou. Piscou apenas o olho esquerdo.

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