domingo, 19 de setembro de 2010

Gateiro

Gateiro, pensionava felinos órfãos, penseiro dos miamentos tristonhos que reclariam a morte, se sem decência de casa, comida e fresca aguinha. No ronrodizer dos bichos era bemlambidamente reconhecido pelos faroletes-olhos que faiscavam afetos. Do desligo-displicente felídeo criava uma fina sintonia com o que pensava, então adivinhava as vontades das gatas famélicas, seus miados e cios. Foi suficiente para as zombetices do povo da vila, que o chamavam de gatonauta. Não ligava, até perceber que suas unhas também já estavam se tornando retráteis, como desses animais. Os passos tornavam-se digitígrados, na ponta dos dedos. Mas o que mais o assustou foi espelhar-se e ver-se nos olhos, que cresciam à vista: seu campo de visão ampliara-se a 185 graus e suas pupilas, agora, eram verticais. Engatou-se. Gatificou-se, até miar miou, já com novo afeto por si.

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