terça-feira, 28 de setembro de 2010

Certas noites

Certas noites, Olga Regina ficava acordada escutando o vento. Do zumbido mais agudo, ou menos, sabia prever os gemidos que viriam das dobradiças desengraxadas da porta dos fundos. Só esperava. Só, esperava. Naquela vila erma as casas tinham entre si a distância da discrição. Nas tempestades, todos se confessariam ressabiados, mas ninguém nunca perguntou isso a outrem. “Ó de casa!”, Olga Regina ouviu numa daquelas madrugadas de brisa mansa e chuva serena. Estremeceu-lhe a espinha, mas botou botas, calçada de coragem para ver quem era. Nunca mais foi a mesma órfã solitária dos muitos anos. Ao menos na lembrança que guarda daquele rapaz faminto e também solitário... como quem entesoura uma jóia preciosa.

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