quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Sinceridade nunca

Sinceridade nunca foi o forte de Odinésia. Dizia sempre que não descansava nunca, mas os próximos bem sabiam da distância que ela mantinha do trabalho. Aprofundava-se em tédios quando havia ocupações pendentes, e daí lançava suposições aos metros. “Num posso”. “Tô até aqui de papéis pra ler”. O peito subia e descia em enfado compassado que simulava espasmos musculares. Odinésia, então, era todo desprazer. Chegaria ao engasgo involuntário, se necessário; às lágrimas rosto abaixo, se indispensáveis, até que não houvesse mais risco de batente iminente. Ederaldo só conseguiu ludibriá-la quando a colocou de recepcionista do seu escritório de trambiques. “Fique aqui, Odinésia, e finja que está sempre ocupada!”, determinou à irmã. A falsa então trabalhou, fingindo que não fazia nada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário