segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Consistência e caldo

Consistência e caldo grosso. Doce em coma, então sob o céu severo daquele povoado as rigorosas bocas palavreiras haveriam de apreciá-lo. Dona Noêmia comungava percepções que a vila oferecia às nesgas. “Aquele último, o de amendoim, estava um primor, Noêmia”. Era a maneira como a vizinha Cida criticava o penúltimo, de abóbora. Dona Noêmia vivia do ponto certo entre os ingredientes e os açúcares. Entre os ódios sem júbilos das amargas vidas e a defensiva de um “não experimentei ainda”, oferecia em domicílios seus préstimos adocicados. Criou os filhos com os dedos anônimos, manuseando colheres de pau. A precisão era a vida. As receitas que desandaram, por indefinição do tempo ou oscilação do fogo, foram incapazes de desatar-lhe o prestígio de doceira. Dizem que não morreu: cristalizou-se. Figo de cabeça para baixo ou morango crescido: essas coisas saborosas, que têm a forma de coração.

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