quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O ferrão

O ferrão do desprezo brilhou de prazer no peito de Edivânia. Água fria, fofa. Disse à Dirce, quando metia a cara dela na ducha anti-álcool, depois do porre. Seu estoque de fricote escoou pela fenda do ralo redondo. Degolá-la, como pensou, Edivânia deixou pra depois que escorresse o halo da vergonha. Úmida, feito baba de escargô, haveria de verter o mal que fez à amiga, através daqueles óculos embaçados que escondiam miragens suplicantes. Edivânia escoiceou o pé de Dirce na divisa do boxe, e lascou-lhe um tapa na nuca tonta. O irrisório fio do bom senso perdeu o nó. Pôs-se a arranhá-la, para arder; a empurrá-la, para escorregar no piso liso. Daí aos azulejos foi só um passo falso. Falsa! Fique aí desnivelada que é como você é, ainda bradou Edivânia imperativa. A pasta de amiga no chão não era mais gente, nem consideração, nem amiga. Com o olhar oco de expressão Edivânia, bateu a porta: “quando você se casar o marido é seu!”.

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