quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Não tomou

Não tomou toda a água do copo. Seus excessos tinham outras naturezas. Virou-se à moça e, sem dizer nada, apontou para o pastel murcho que jazia na pequena vitrine de salgados. Cheirou, mordeu e olhou em volta. Garçonete. A senhora que fez? Fez que não com a cabeça. Ah! Não gostou? Não! Deu de ombros. Poderia ter sido de sobrancelhas. Verificou as horas no relógio de pulso, e era tempo de mudar de rumo na vida. Borbulhou na garganta o café frio. Engolia as últimas ansiedades desse mundo. Súbito, sacou um canivete suíço que trazia no bolso, para cortar desfeitas. Puxou a moça pelo colarinho e encostou rostos. Estúpida violência inútil da frustração imediata. Reinando sobre a vida, chegou-lhe a lâmina ao pescoço. Não te mato, sua vaca, porque a azeitona era preta. E eu adoro azeitonas pretas.

Um comentário:

  1. "Súbito, sacou um canivete suíço que trazia no bolso, para cortar desfeitas"
    às vezes é bom ter um canivete desses sempre por perto

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