segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Estrebucha a danada

Estrebucha a danada. Na cabeceira de fórmica o relógio marca seis e meia. Família imóvel. Já faz tempo que Jandira ameaça. Irrepreensível, o cuco salta uma vez, a meia da hora que é. Todos olham, só porque ele chamou atenção. As vozes que Jandira emite têm um quê de celofane amassado. Não se juntam as palavras nesse espetáculo. Houve a vez que a mãe chamou socorro. Houve o pai que lhe enfiou o dedo na garganta, e tirou de lá todos os comprimidos. Houve o grito do irmão que a segurou na janela. Agora, não. Todos olham, num misto de vingança e mesura: ela quer? Que vá! Uma sombra informe cresce no quarto pelo Sol que raia. A zanga contida cresce junta, em todos, que olham, olham. Jandira provavelmente já não há mais. Nem celofane fala, nem estrebucha.

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