domingo, 26 de setembro de 2010

Na lata

Na lata, a intenção ficou explícita: eu não poderia me mexer. Seriam vinte segundos de absoluta precisão tecnológica, mas a base era a velha e alquímica transmutação de elementos. Voltaria vinte anos, um por segundo. Mais do que isso seria temeroso, disse o doutor Jekyll Sales Hyde, pesquisador renomado das coisas contraditórias e exibicionistas. A platéia olhava com uma angústia cremosa e a lividez dos macabros. Eu, lá, só esperava o início da coisa. Ele apertaria o botão de uma máquina rouca, um tanto ruidosa, mas eu não poderia me assustar com aquilo, era só o som do processo. Nem a odiosa contagem regressiva o danado do Jekyll fez. Foi logo apertando o botão. Confesso que os calafrios não vinham dos fios, todos plugados às partes vitais do meu corpo, mas de um certo cagaço intuitivo. Vinte segundos ansiaram séculos. E quando o motor calou-se, ouvi um oh do público. Para minha felicidade, sai do mesmo jeito que entrei naquilo, apenas bem mais cético.

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