domingo, 5 de setembro de 2010

Tão educadinho

Tão educadinho era Atílio, que o pai de Vilma coçou a cabeça ao ser apresentado ao namorado da filha. A vista do rapaz de turvava sempre que se abaixava, e dizia ver cristais luminosos. Cada uma! Pensou o velho, paspalhão e fresco como letrista de tango traído. Mas Atílio, em seu íntimo, aparentemente passivo, era uma bomba-relógio: poderosa e irracional, quase ilógica, pronta para explodir no momento menos indicado. O velho, turrão e atento, não abria espaço ao namoro dos dois, ainda que mantido em rigoroso banho-maria, homeopático, no sofá principal da pequena casa. Ao menor sinal de cochicho do casal, interferia tosco: “o que é? Fala mais alto!”. Foi no domingo à tarde, quando o silêncio dos três produzia cãimbras, que o jovem enamorado, sem quê nem por quê, virou a bunda em direção ao velho, como se alçasse mira, peidou prolongado, levantou-se e, ainda à porta, virou para os dois, ameaçador: “vou namorar alguém menos complicada”.

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