quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Espelho da barbearia

Espelho da barbearia é sempre uma esperança. Foi num deles que vi Albuquerque. Sei que esse era o seu nome porque era do tipo que se auto-mencionava: “aí, meu sócio me disse: - Então Albuquerque, não quer aumentar sua retirada? Nossos lucros estão de vento em popa!”. Hã, hã, respondi. Havia dois barbeiros trabalhando em conjunto: um cortando meu cabelo, outro, o do Albuquerque. Em si, cortar cabelo já é uma chatice social, com o Albuquerque ao lado a coisa ganhava a dimensão de uma dor de dente. Minha autocomiseração chegava às vias do tédio de um hipopótamo enjaulado. As proporções angustiantes de meus modos se perdiam na imagem refletida à frente. E a esperança? A única e restrita esperança de uma cara melhor, ao final da obrigação, apenas punha visível um conteúdo dissimulado. Juro! Vou deixar o cabelo crescer.

Um comentário:

  1. Alaor, meu caro! Parabéns pelo prêmio e pelo lançamento do livro. Farei de tudo para estar presente. Sucesso e força sempre! Bjs.

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