terça-feira, 27 de abril de 2010

Recebia as trovoadas

Recebia as trovoadas com a indiferença de quem ouvia conversas de mães sobre seus bebês. Aquele céu pesado nem por mera observação ou curiosidade causava-lhe interesse. Havia uma relação entre ele o mau tempo. Não apenas por serem estranhos, sujeitos a raios ou capazes de tumultuar espaços e ambientes, mas por acontecerem de quando em quando, às vezes incessantemente.
Descobriu-se trovão ainda no grupo escolar, raio no colégio e tempestade quando já estudava para ser um profissional. Na falta de ofício honesto e ânsia pelo dinheiro fácil, optou por empreitar obras públicas. Doutor isso, doutor aquilo. Ligue ao prefeito, ligue ao deputado. Pague o comprador, programe a licitação. Até deu-se por milionário, mas queria o dobro. Só quis triplicar quando dobrou e partiu firme para um pouco mais. Contam que mandou ladrilhar com pedrinhas de brilhante a rua de seu amor, mas promoveu, paralelamente, a briga entre o cravo e a rosa: que deixou o primeiro ferido e a segunda despetalada.

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