quinta-feira, 15 de abril de 2010

Meio muito

Meio muito puto chutou água no chafariz, onde havia um peixão torto de jeito, de gesso, soltando jatos pela boca. Cercado pela noite, mas iluminado por um refletor fixo, o bicho pouco se lixou à raiva de Jacinto. Recebia a tempestade com a indiferença das estátuas. Já a lógica de Jacinto fugia por algum poro. Deixou os chutes para morder draculamente o polegar dobrado da mão direita fechada, e nem era italiano, legítimo dono de gestos desses. Só sossegou quando quedou sentado na possa do chão. Fundilhos molhados são seguros remédios pra amainar ódios soltos. Aos poucos foi trocando o ridículo pela reflexão, o insano pelo conformismo. Jacinto olhou para aqueles que curiosos o viam, burlando a gravidade com a levitação dos risos. Pareceria louco, não fosse a ciência coletiva de tratar-se de um respeitável apaixonado, numa vagabunda desilusão.

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