quarta-feira, 28 de abril de 2010

Quando prometeu

Quando prometeu a salvação foi logo avisando “não acostumem”. A religião era nova e quem mordesse línguas ou mucosas em seguidas orações para alcançar a paz corria o risco de perder a parte boa: a dança. Era entre simuladas colunas coríntias, salomônicas, tibetanas e jônicas que se pregava uma alegria à beira do profano. Irmã Juraci, por exemplo, apertava contrita a mão de Ernestão, enquanto sussurrava-lhe o mantra: “quem agüentaria nascer, viver e morrer do próprio tamanho?”. Pronto, era o rito de passagem, que todos ali esperavam com uma redenção lambuzada. E uma enchente estéril de explicações toscas revelavam “me digas”, “me descreva”, “me contes”, para que cada par pudesse narrar sua experiência naquele ápice de fé. O pastor apoiado no queixo, então, pregava uma espécie de veredicto: “quem já produziu uma obra de arte sabe bem o prazer que isso dá quando ela termina”. Ah! Todos sentiam-se deuses!

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