quinta-feira, 22 de abril de 2010

Mais do que

Mais do que sensual, Angélica tinha a boca pervertida. O ar levava suas palavras como se tivessem saído de um gigante alto falante. “Aquila” era um substantivo que substituía o pronome “aquela”, no cacófago a boca dela. Concha cheia de caninos, produzindo um imenso eco, umedecido pela vodca com tâmaras, exotismo dela. No embalo dos sons saíam sins. Como se repetisse “sim”, pendendo o queixo à frente. Álcool, nunca uma concordância. As expressões néscias nasciam abruptamente em seqüência progressiva. Só poderiam ser rudes aqueles ouvidos, ou a impediriam de cunhar tantas ganâncias e pecados com aquela voz ultrassônica. A beldade anunciava sem sombra de uvas até seus míseros resultados da mistura com o vinho: “vou mijar!”. E todos olhavam “aquila”, indignados, tentando ser perfeitos.

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