quinta-feira, 8 de abril de 2010

Elegância e opulência

Elegância e opulência não faltavam àquela cozinha que, não fora pelas fotografias da família reunida e até do cachorro pequinês, julgaríamos tratar-se de cozinha industrial. A pessoa que a construíra devia ter gosto apurado: um chef, um gastrônomo requintado, um bom goumert. Um conhecedor, enfim, da alquimia dos alimentos e dos equipamentos necessários ao seu processamento.
Do nada, que na verdade tratava-se de uma porta de madeira e palha trançada, surgiu o homem gordo, que passou sem dizer uma palavra que fosse, e saiu pela segunda passagem, a dos fundos, de mola vai-e-vem entreaberta, onde víamos uma horta. O tempo parecia não passar, até que ele voltou. Trazia na mão esquerda um bicho morto já limpo, que se parecia com um coelho. Na direita, muitas hortaliças frescas. Perguntei solene se o dono demoraria, porque o horário de fechamento da loja de rações onde eu trabalhava se aproximava. O gordo disse “não”, seco. Só depois concluiu, como que para si próprio: “só que o senhor terá que esperar mais pouquinho. O dono vai jantar primeiro”. Não posso deixar a ração e receber depois? Perguntei. “Não. O dono gosta de ver o que os pequineses comem. Ele adora pequinês!”.

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