terça-feira, 20 de abril de 2010

Pude ver

Pude ver, com esses olhos que os vermes haverão de comer, o anúncio da Funerária Vida Eterna: “enterram-se damas, cavalheiros e crianças”. Ri do macabro. Pensei “ainda é muito cedo pra eu pensar nisso”, mas sabe-se lá. Exercício não faço, nem dançar danço: um rebelde sem salsa é que devo ser. De repente, numa dessas andanças, a vida me incuba um micróbio remoto. Num desafio do caminho, um carro na contramão. Num descuido, um fim sem sal. Os cemitérios estão cheios disso. Quantos caixões já não tiveram que apresentar o morto lacrado, por um escorregão no quinto andar?
Não acho, aqui, o telefone da Vida Eterna. Ela deve ter site, e-mail, essas coisas. Por via da brevidade da vida vou fazer uma consulta. Deve haver algum desconto especial para quem não tem doença mortal, parou de fumar e anda na linha. Se não tiver, azar o dela. Serei um defunto a menos.

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