segunda-feira, 19 de abril de 2010

O coro em Monteverdi

O coro em Monteverdi encabulava a sala de estudo da vetusta biblioteca. Por que música ali? Abarrotado de desordens íntimas, Carlos quis ouvir de perto aquelas vozes madrigalistas. Procurou por trás dos quinhentistas. Vasculhou maneiristas. Bisbilhotou barrocos aqui, ali e nada. Dura empreitada por frestas inglórias. E quanta poeira naquela labuta... Pedantismo no ar. Uma visão tão nublada quanto sua cabeça nas nuvens. Um espirro bíblico, um resto de alcorão. Danadas lembranças ou suposições ou crenças. Carlos quis pra logo desvendar as coisas entre o céu e a terra, antes que desnudassem sua vã mediocridade. Mas aquela música de Monteverdi que não parava, aquele coro inquieto, aquela beira do ápice que achava de si próprio, o faziam perder-se na geografia de seu inferno. Não! Aquilo não seria uma biblioteca. Quem sabe uma igreja? Pensou Carlos, antes de saltar da cama, suando chamas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário