sábado, 17 de abril de 2010

Como se Iguaçu

Como se Iguaçu caísse do céu, chovia aos cântaros enquanto Odete cantava.
Deixa a água, gritou Durval, o pianista, cuja cisma oculta era um medo besta de um dia morrer queimado. Dirigia-se aos muitos bêbados que deixavam as banquetas do balcão, na busca de um abrigo próximo ao portal de entrada que, evidentemente, pela localização, também convidava à saída. Uns aos tropeços falavam do carro, estacionado lá fora, temendo enchentes que o levassem. Outros aos trancos impediam pavores: “ninguém se mete com esse temporal”.
Durval dedilhou o intróito. Odete pigarreou a nota. E daquela secura , meio tirana, meio úmida, saiu uma canção inédita tão linda que todos voltaram-se ao palco inebriados. Já não havia tempestade capaz de distrair a comoção em estio, que crescia a cada acorde. Amornada, a emoção nem liga pro tempo. Tudo passa.

Um comentário:

  1. Grande Alaor.
    Tenho acompanhado a sua superprodução de crônicas diárias e passo por aqui pra dizer que estou com um blog contando histórias do bar que frequento em São Paulo. Se puder, dê uma olhada e se gostar, divulgue. O endereço é bardopinu.blogspot.com
    Beijos

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